AGRADECENDO A LUA
Escrito nas estrelas,
Repleto da mais pura beleza,
Foi assim que imaginei seu nome.
Fora, é claro, os desenhos nele envoltos
E um brilho que some
Enquanto meus pensamentos ficam soltos...
Dentro da eternidade e a cada instante,
Percorrendo as curvas do seu semblante
Como um admirador confesso
Das performances que você esbanjava
Num balé quase secreto
Enquanto Ela lhe abençoava;
Era a Lua cor-de-prata,
Sua fã e protetora,
Minha musa e amiga,
Que sempre ouve as dores da minha vida
Como uma psicóloga camuflada
Dentro de um escritório cheio de sombras
O letreiro na porta de vidro fosco dizia:
“Lua Cheia, Nova, Crescente ou Minguante,
Escolha a sua e fale à vontade.
Atendo suas necessidades!”
Eu falava enquanto sofria,
Procurava-me, mas estava distante.
Olho o espelho; não sou eu!
Não tenho essa face tão melancólica.
Foi meu coração que sofreu.
Minhas feições têm de ser sólidas.
Até na dor eu tenho que rir...
O que não posso é partir!
Ainda há muita coisa a fazer:
Tenho que me suicidar,
Depois, até seus braços, correr
E, no mesmo impulso, lhe beijar.
Sentir-me dono do mundo
Ao prazer de um toque profundo...
Que frio está seu beijo!
Parece ter perdido o desejo...
E eu que corri tanto,
Sinto o coração congelar
Por viver amando
Enquanto, comigo, você fica a jogar!
Em qualquer jogo decisivo
Eu sempre fico esquecido.
Não sou capaz de valer o suficiente
Para ser parte de qualquer equipe!
Começo a enumerar a dor conseqüente:
Primeiro foi a gripe,
Depois o sono, a chuva, a morte,
A sensação de vazio.
A madrugada corre depressa,
A insônia se expressa,
A solidão quase faz um corte
Quando recordo aquele frio.
Essa é uma cidade bastante movimentada.
Minha dor me faz permanecer inerte,
Confessando à Lua cor-de-prata
Que, ao lhe ver, meu destino se perde,
Entra em ruas sem saídas,
Chora por rosas destruídas
Sem cor e sem perfume;
Jogadas fora por uma briga de amor...
Aquelas brigas de costume,
Que nem chegam a causar dor,
Mas dão o prazer da reconciliação
Para reafirmar a relação.
Desculpe interromper seu prazer,
Ou mesmo, cruzar seu caminho.
Só queria pronunciar o nome que li nas estrelas
Sem que o tremor me acometa.
Não o conseguirei fazer;
Vou ter que continuar sozinho!
Mais um ano na estrada percorrida
Pelas dores que, à alma, invadem.
As mesmas dores do suicida:
Gripe, insônia, solidão e saudade.
Total ausência de vida...
Não importa o quarto que me guarde!
Quartos frios!
Lágrimas repletas de sal
Que escorrem do meu rosto sem brilho,
Já de um jeito tão normal
Que eu quase acredito
Que, nas batidas do coração, já é carnaval.
Mas fugi, tive medo
De ficar fraco e lhe ver
Contando ao mundo meu segredo,
Fazendo-me sofrer,
Com lágrimas saindo pelos cotovelos
Até lhe esquecer!
Parece uma boa perspectiva,
Mas não é o que eu quero.
Quero continuar na briga,
Não importa o tempo, eu espero!
Mesmo que minha expressão esteja aflita,
Mesmo que eu esteja encoberto
Em minha rua deserta,
Gritando, com a boca aberta
Para espantar a tristeza,
Jogar fora a melancolia,
Procurar e ter certeza
Que posso, um dia, encontrar alegria.
Acabei de encontrar!
Na fotografia do meu olhar.
Eu estava deitado
Olhando o céu infinito,
Procurando o que já havia encontrado
Mas o tempo havia escondido.
Os tempos são duros!
Já não ajudam os amantes.
Deixam que o desencontro aconteça
Mesmo que esteja escrito nas estrelas
Para acontecer no futuro.
Os tempos mudam tudo...antes.
Quem sabe o que pode acontecer em um ano?
Com tanta estrada a percorrer,
Tanta lágrima por chorar,
Tanto ainda por lhe amar
Que fica impossível haver um engano
Na quantidade que tenho para sofrer!
A casa, o jardim, o seu olhar...
Tudo é capaz de perceber,
Até o distante mar
Já tentou me fortalecer!
Tudo o que eu quis foi sorrir
Ou, uma oportunidade possuir:
A oportunidade de fazer alguma coisa em sua vida
E lhe deixar mais presente,
Mais dócil, mais aquecida.
Um pouco minha, evidentemente,
Para eu me lembrar
Das noites que, em você, eu fiquei a pensar.
Das noites que vivi acalentado,
Essa foi a menos ruim!
Li seu nome decorado
Nas estrelas do sem-fim!
Suicidei-me e estou acordado
Sonhando que sofres por mim!
Tenho uma dívida de gratidão
Com minha psicóloga, a Lua,
Que ficou Cheia de ouvir meu coração,
Enquanto eu andava Minguante pela rua
Da minha Crescente solidão,
Ela deixava minha mente mais Nova que nua.