Cada um de nós tem seu próprio Jardim...
Ela está sempre me parabenizando. Lógico, tem também a sua participação. Uma cumplicidade mútua. Nem precisava dizer mais.
Cada um de nós tem seu próprio Jardim.
É triste, algumas vezes.
Áridos, empoeirados, desérticos.
Nunca visitados, abandonados, as trancas enferrujadas.
As sedas da cama roídas pelos ratos.
Teias de aranha nos lustres.
Lago de águas pútridas.
Cheiro pestilento.
Escuro. Frio.
É triste.
O dinheiro escasso.
A falta de tempo.
A rotina.
A preguiça.
A comodidade.
Nada justifica o descaso.
Nada justifica tornar inóspito o Templo de Eros, o Divã de Freud.
Desde sempre, cuidei do meu Jardim.
Sempre o fiz acolhedor.
Sempre cuidei das flores.
Sempre deixei as velas acesas.
Sempre mantive a cama aconchegante.
Sempre esteve vazio.
Sempre cálida, sedenta... & sozinha.
Você entende? (pergunta sempre presente)
Nem eu mesma entendo.
Vida cem por cento.
Ainda assim o Jardim Secreto ermo.
Homem cem por cento.
Ainda assim o Jardim Secreto ermo.
Vinte & quatro anos aguardando.
Por você.
Faltava você.
Só você, nascido dezesseis anos antes, teria a permissão, a chave.
Já disse isso antes.
Você entrou quebrando as vidraças, trazendo consigo calor, a compreensão que eu tanto aguardava.
Foi surpreendente.
Esperei por tanto tempo & ainda assim fui pega de surpresa.
Tive medo.
Tentei refutar sua presença.
Já era tarde.
Que bom.
Peixão89
Desabafos 2 - 1999-2000