Lamento do poeta, pois sua amada é a quintessência

1

Se és feita dos quatro elementos,

Amor, como dizem os alquimistas,

Com eles não te confundes,

Só podes ser um éter que vaporas

E não me deixa pistas.

2

Quando nos gregos jardins te procuro, Amor,

Há muito, para longe, já partiste-

Mas nas flores lançaste teu perfume,

E, na minha chegada tardia,

Saudade me diz que não sumiste.

3

Na biblioteca, lendo os velhos manuais,

Encontrei páginas com tua assinatura:

Dentro destes espelhos tristes e poentos

A memória vaga e o Amor flutua-

Revocando um tempo de infirme desventura.

4

Mas, no colégio em que estudamos juntos,

Portas e janelas me conduzem, transparentes,

A um pátio sombroso onde um cortejo

Vê mais um que para o Hades vai partindo...

Este sou eu, Amor, não sentes?

5

Se és, como pensavam os sábios,

A essência quinta onipresente

Retorna, Amor, a este extremo delírio,

Salva- me, pois o relógio marca, altivo,

A passagem minha pelo Portal Ingente.

6

Pelas vésperas de nuvens cinzentas

Surge o Sol - e já proclama

O meu fim. E, se não me redimes,

Por favor, ao menos um óbolo concedas

Ao inflexível barqueiro que me chama.

...

Que sozinho eu siga viagem, Amor, enfim!

Filicio Albara
Enviado por Filicio Albara em 24/01/2010
Código do texto: T2047860
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