Lamento do poeta, pois sua amada é a quintessência
1
Se és feita dos quatro elementos,
Amor, como dizem os alquimistas,
Com eles não te confundes,
Só podes ser um éter que vaporas
E não me deixa pistas.
2
Quando nos gregos jardins te procuro, Amor,
Há muito, para longe, já partiste-
Mas nas flores lançaste teu perfume,
E, na minha chegada tardia,
Saudade me diz que não sumiste.
3
Na biblioteca, lendo os velhos manuais,
Encontrei páginas com tua assinatura:
Dentro destes espelhos tristes e poentos
A memória vaga e o Amor flutua-
Revocando um tempo de infirme desventura.
4
Mas, no colégio em que estudamos juntos,
Portas e janelas me conduzem, transparentes,
A um pátio sombroso onde um cortejo
Vê mais um que para o Hades vai partindo...
Este sou eu, Amor, não sentes?
5
Se és, como pensavam os sábios,
A essência quinta onipresente
Retorna, Amor, a este extremo delírio,
Salva- me, pois o relógio marca, altivo,
A passagem minha pelo Portal Ingente.
6
Pelas vésperas de nuvens cinzentas
Surge o Sol - e já proclama
O meu fim. E, se não me redimes,
Por favor, ao menos um óbolo concedas
Ao inflexível barqueiro que me chama.
...
Que sozinho eu siga viagem, Amor, enfim!