DESERTO - Lamento de uma árvore
DESERTO
Não me tires a vida se não posso gritar
Meu grito é o silencio, é o vento é o ar
Teu fogo é a força, faz meu grito calar
Não me cortem os dedos, os pêlos, os pés
Minhas pernas perdi, cravadas na terra
Terrível guerra, injusto machado
Me faço teu braço para me ferires
Não me troquem por muitas outras, diferentes
Meus amores morrerão, não deixarão sementes
Não se deitam em outro colo, senão no meu
Simbiose perfeita, eles e eu
Fui tua casa, repouso amigo
Fui tua sombra, teu abrigo, teu teto
Me usas, me matas, me queimas
Já quase não sou
E quando não for mais
Quando for apenas lembranças
Não me hás de lembrar
Se lembranças serás também
Pois quando me atiras
Me tiras de perto
Tu mesmo te atiras num grande
DESERTO