O melhor e o pior
O melhor foi ousar
definir o amor pelo abecedário,
enfiar o coração inteiro na grade do xis,
guardar os pedaços a chave na gaiola do gê,
confiar no esse para lançar na leitura um beijo voador.
As palavras, os dias.
As frases, as semanas.
Os parágrafos, os meses contados e descontados.
O melhor foi acreditar no poema-sangue,
no texto-corpo,
na leitura-pulmão,
no ritmo temperado com saliva de boca,
com silhueta de dança,
com o êxtase no calor da noite.
O melhor foi querer
vestir-me de vocabulário,
enviar-me na garrafa da mensagem,
desenhar o plano perfeito no teclado e levar
por chapéu a música rimada de uns versos de amor.
O pior...
Ter que dizer-lhe a verdade
ao porquê apaixonado:
O mundo não tem, caro,
linhas suficientes para o deserto virar floresta
por causa de uns poeminhas, mesmo que engraçados...