Adormecido
Um poema adormecido na imensidão da madrugada, embalado pelo son do silêncio, adormecido como o sol à espera do despontar da aurora, adormecido como a princesa à espera do príncipe para despertá-la, para desposar suas rimas e tons.
Um poema esquecido, à deriva da imensidão, perdido na canção que se dispersam em sonhos. Ao menos ouvisses as canções que vibram sem acordes, livres nas pausas e nos timbres que tocam as letras.
Um poema que adormecido se vê como forma de sustentação, de redenção e até ilusão. Um poema que se prefere assim, pois quando dormes te encontra em suas linhas.
Linhas trêmulas, que ainda desenha príncipes e pincesas, que desenha uma mínima possibilidade de existência nesses contos de fadas, transformados em contos reais, por vezes tão reais que se fazem dor.
E durante esse profundo sono, sonâmbulas vontades ousam escapar pelos versos, vontades embriagadas de nostalgia, de descrenças às possibilidades que ousam marcar o papel, o meu papel... a minha vida... as minhas páginas...
Deixo dormirem todas as palavras, todos os sonhos, toda poesia
E no meu silêncio ainda canto uma cantiga de ninar...
Dorme poesia...
Dorme hoje
Por que amanhã é outro dia...