O braço direito de Otto

Estou condenado à escrita

E a cada folha preenchida

Nutrem-se as chamas de minha inspiração

Não renunciei a vida, ah não!

Não obstante, anseio em conhecê-la

Desvendar seus ritos, seus mistérios

Mergulhar no desconhecido, merecê-la

Queria provar o ventre da montanha

Sentir seu calor, receber seus nutrientes

Mas, faltam-me raízes, amigos, olhos e mil coisas

Os lábios grossos fecham-me a boca

Não sei o que é o verdadeiro mar

E nunca direi não a ele

As palavras são portas abertas

Lembro-me de meu pai, anuindo com a cabeça

Depois, sentirei clausura nas montanhas

Precisarei conhecer o intervalo entre elas

Quando ele, apontava-me o cume

Media a distância do chão até o céu

O espelho sem mácula transformado em sabedoria

E essa sabedoria divina é a que me sempre me faltou

Melancolia incurável... Guarda-me anjo!

Venha antes e prepara-me, mostre-me quem eu sou!

*À Otto Lara Resende: 1 de maio de 1922 — 28 de dezembro de 1992

Marciano James
Enviado por Marciano James em 19/01/2010
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T2039434
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