Redentor

Olhando-te é possível dizer que até

- e isso é apenas uma impressão -

que te pareces com o Cristo...

que se crucifica pelas igrejas vazias

É possível ver em teu olhar vítreo

um tant de calma sombria, calada

quenão se mexe nem se emociona

apenas nos olha deísticamente...

como o Cristo que se crucifica nas

portas de todas as igrejas banalizadas

que não é mais que a mera estátua

de um homem condenado a morte

mas que pra tantos significa tanto!

Talvez olhando mais de perto teu rosto

que não quer expressar coisa alguma

eu perceba em ti a paz tão falado

e que as pessoas diem que transmites.

Mas por um momento algo me diz

que esse Cristo que eu examino não é

o que eu estou aqui a procurar

Então eu paro e te vejo atentamente...

Serias tu tão humano ao ponto de estar

tão simplesmente ao meu alcance?

Divino ao ponto de seres Deus alcançado?

Não.Tu não és tão pequeno assim!

Então... como eu continuo a ver-te?

Será que esse Cristo morto é uma

parte da infinita forma de tua face?

Algo em teu olhar me diz que talvez,

e isso muito vagamente, o sejas de fato

Não morto porque isso é recrucificar-te

mas sereno: porque a vida e a morte

pra ti são águas que se vão longe

- ou talvez tu as atravessaste com

o tempo que dizem que te pertence -

mas tu ficste sólido como uma rocha

Tentando prestar atenção eu procuro

me identificar nas dores que deixaram

teu rosto antes sereno, porém jovial

neste estado pétreo, rígido, agonizado

no qual nenhua beleza vemos para

que venhamos a te desejar. Quero buscar

de verdade, misticamente, o que em mim

há que me faz pensar tão subitamente

a tua forma estranha de nos amar assim

Procuro um sorriso: não acho. Um afago

também não existe. Consolo...tu mesmo jazes

na tua tortura por mim...por mim!

De repente paro e olho em teu olhar morto

Ele não diz nada - por mim - não mexe

Olho tuas mãos. O sangue ja parou de

correr há muito tempo, mas a ferida

parece que continua aberta - por mim -

Seu sangue morto está em silêncio...

como que esperando algo que não sei

Eu olho e não sei se essa é a razão de tu

estares eternamente crucificado e morto

talvez essa parte de ti sea uma eterna

e incansável espera... de ti mesmo

em aquele que quer ter-te vivo dentro de si

para que tu possas descer dessa cruz e ser

tu na maneira primitiva de outrora,

não esse ser agonizante, mas um homem

humanamente Deus ao nosso alcance

Mas agora eu vejo que o padre vai fechar

as portas da igreja e vais ficar

na escuridão esperando, morto até que

a ferida se abra no coração de alguém

Até lá tu permanecerás vítreo, pétreo e morto

de braços cravados e com o sangue parado

no sepulcral silêncio do teu jesto redentor