ILUSÃO PASSAGEIRA (Magreza)
A tua magreza
me espeta e desperta em mim
a grotesca imagem de um fantasma doente...
convalescendo e mordendo as unhas
como quem se alimenta do sangue dos dedos!
Teus olhos me olhando do fundo do crânio
não têm mais aqueles raios ofuscantes
que deixavam tontas as carícias e
queimavam em façanhas o pudor,
provocando soluços de dor, arrepios de horror!
Atraentes como os olhos das cobras,
como os seios das donzelas,
como o quarto dos amantes,
como o prazer dos casais!
- Morres... morres... morres...
com o tempo corroendo os quadris...
derretendo os ossos,
recolhendo as vísceras,
desmantelando o todo,
dissecando o cadáver
antes mesmo, do desfalecer!...
- Ao passar por ti, mesmo transparente,
numa transversal da Avenida
foi como se uma porta a ranger
anunciasse a tua presença,
que o vento soprou... soprou... soprou...
e fez poeira... poeira... poeira!
Ao te olhar de frente
desapareceste como um supersônico;
tropeçaste num palito,
mergulhaste nos detritos dos venenos dos canos
e na multidão te desfizeste.
- Serias capaz de reconhecer agora
a infinita crueza das tuas loucuras?
Já me fizeram crer,
já me mandaram dizer...
no entanto, procuro te querer
como se não estivesses mais aqui!
Oh! Ilusão passageira,
ofegante e rasteira!
Sai, sai, sai, sai,
te desfaz e vai!...