Primeiro De Janeiro

Mais que um céu onde as nuvens dançavam ao redor da lua, tão religiosamente quanto fiéis súditas de qualquer seita - achei, por vezes, o meu coração, não meus olhos, a te encarar; a te tentar com um pedaço do meu osso, feito alguém que de repente, depois de muito tempo, sente o sabor do que é doce – e impressiona-se ao ver que o seu fim era só o começo do que era amargo; do que é difícil de engolir, mas sempre está, apesar, nos escalando a goela abaixo... E então é um novo ano! Gritamos uma nova vida... Não sei... Um novo engano, talvez... Mas esse meu espírito que traga verdades, traja dúvidas, só tem certeza daquilo que eu amo - de QUEM eu amo - pois só isso é que tem ousadia de fincar a estaca, de crescer as raízes... Acho que já perdi as rédeas de qualquer poesia que eu queira um dia ter rimado; até mesmo das que poderia ter acabado... Sinto estar tudo desorganizado e eu já quis que isso fosse anestesiado. Mas é que daqui - debaixo do aconchego do seu corpo, observando as curvas do seu rosto, subindo e descendo entre os meus olhos como montanhas que os meus lábios alcançam e podem tocar; podem levar até a língua o teu sabor salgado de doçura - só daqui é que vi sentido pra que mais um ano não nos atropelasse, não nos machucasse em sua queda...

Guito Britto
Enviado por Guito Britto em 18/01/2010
Código do texto: T2036489
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