Frente a frente com o inimigo
 
 
Olhos nos olhos! O rancor era uma ponte
que interligava-nos somente pelo olhar.
Éramos nós, apenas nós, naquele fronte
e essa batalha enfim achou o seu lugar.
Não houve estrondos luminosos no horizonte.
As armas eram de ferir, não de matar.
 
Fui o primeiro a disparar as baterias
e despejei-lhe tudo que me vinha à mente.
Interpelei-o pela vil patifaria
de sabotar a minha vida totalmente.
Pois ele tudo destruiu por onde ia
e não poupou nada que visse em sua frente.
 
Mas o revide veio logo na sequência
e ele acusou-me de ter ido por caminhos
que eu não devia, caso ouvisse a consciência.
E insinuou que destruí a mim sozinho
e que ele apenas, por um gesto de clemência,
pôs um final em meu insano torvelinho.
 
Vociferei que ele mostrou-se um traidor,
que não correu quando o chamei em meu socorro.
Que me deixou sempre à mercê da minha dor;
que inerte viu meu coração sangrar em jorros;
que nunca deu um só apoio pelo amor
e agora ri-se quando vê que quase morro.
 
E com sorrisos de ironia em sua face
ele jurou não ter prazer com minha morte.
Mas, mesmo assim, gargalharia se eu chorasse
porque fui eu que construí a minha sorte
e que jamais, fosse qual fosse o desenlace
eu soube ouvir uma palavra que conforte.
 
Mas, de repente, não sei bem porque, calamos.
E esse silêncio se instaurou como armistício.
Nós estivemos em disputa há tantos anos
e só agora é que quisemos pôr fim nisso.
Esse confronto nunca esteve em nossos planos,
mas a batalha derradeira teve início.
 
Vi-me, batido, sucumbir de olhos vermelhos.
Mesmo querendo resistir, ali caí!
E ele exigiu que eu me pusesse de joelhos.
Vi o inimigo, como outrora nunca vi
e em desespero, enfim, quebrei aquele espelho.
Já não o vejo e mesmo assim ele está aqui!

                          .oOo.