Elegia suburbana

As musas me escaparam nuas na noite vazia.

E nenhum amigo - nenhum daqueles líricos vadios! - me apareceu,

[trazendo o absinto desejado.

Tampouco suas dores, seus maços de cigarro,

A ferida mal-cicatrizada do coração.

Há um botequim em cada esquina, um copo para cada solidão.

Eu passeio em busca de um, apenas um.

Mas o poeta dizia: "há uma hora em que os bares se fecham

e todas as virtudes se negam".

Meus dedos

Ainda calejados de violonista ruim não saberão acariciar

os acordes melodiosos que o violão pede

que o violão merece

como Cartola fazia

em suas Cordas de Aço.

Hoje não tem Pixinguinha,

Hoje não tem choro, não tem samba-canção. Mas pode ter disparos de tiros rasgando o sono na madrugada, seguido de gritos, sirenes,

manchetes policiais, mais um corpo estendido no chão...

Não são mágoas, nem ironia, as coisas que conto.

Apenas digo tristezas para não morrer com elas - e ponto.

No céu, ninguém vê: mas existe entre as nuvens

uma lua minguante que se insinua timidamente,

consolando com tímida ternura,

a minha, a tua solidão, meu amor.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 15/01/2010
Reeditado em 27/06/2010
Código do texto: T2031011
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