[Amargo Amanhã]
[Eu não sabia que em mim
cabiam tantas mágoas!]
A amargura de amanhã
torra-me as carnes, faz sabão
de bola das minhas cinzas,
presto pra nada, pra nada!
Escôo por todas as cenas
da minha vida maldita,
as da rua dos sonhos,
as dos antigos bordéis,
as das ladeiras de pedras,
as das grandes invernadas,
as dos horizontes vermelhos,
as das trilhas do matadouro!
Sou mineiro... e sou goiano,
as barrancas do Paranaíba
criaram-me assim, esse ser
rude que não pede licença,
e ama o aroma dos manacás!
Mas agora, morro mesmo
é aqui, longe das noites grandes,
perdido em Penas do Desterro,
e sem olhos que me salvem
de mim mesmo - Jogo ruim
para quem nunca aprendeu a perder,
e já está prestes a comprar o coringa!
Eu, eu sim, que não aprendi
a vender as minhas palavras!
[Penas do Desterro, 14 de janeiro de 2010]