VENTO
O vento novamente veio.
O mesmo do inverno ameno
Do ano passado.
Traz consigo a alma dos poetas
E uma inspiração sem dono
Nas flores, no mar, no tempo.
Inclusive nos pipas multicores que enfeitam o céu...
O vento veio
E não obedece as trilhas:
As veias cinzas da cidade humana.
Uma cata-vento brinca
Com seus infinitos dedos
E as antenas sustentam as crianças em cima das telhas.
Antes anunciava a sua vinda a poeira
Mas o campinho de futebol não existe mais:
Constroem prédios nos locais reservados à alegria.
E o vento da ilusão
Gira moinho, infla balão.
Promessa. Brisa circular.
Sopro voraz que atravessa as primaveras,
Destroncando árvores
E apagando velas.
Cavalo ainda selvagem,
Que balançando o fogo,
Faz dançar a sombra.
Passa correndo na janela,
Assovio que nos assombra...
Mago sutil que tudo vê!
Velho vento:
Metáfora diversa, suspiro original...
Vento cruel da saudade...
Vital complemento venerável da poesia.