VENTO

O vento novamente veio.

O mesmo do inverno ameno

Do ano passado.

Traz consigo a alma dos poetas

E uma inspiração sem dono

Nas flores, no mar, no tempo.

Inclusive nos pipas multicores que enfeitam o céu...

O vento veio

E não obedece as trilhas:

As veias cinzas da cidade humana.

Uma cata-vento brinca

Com seus infinitos dedos

E as antenas sustentam as crianças em cima das telhas.

Antes anunciava a sua vinda a poeira

Mas o campinho de futebol não existe mais:

Constroem prédios nos locais reservados à alegria.

E o vento da ilusão

Gira moinho, infla balão.

Promessa. Brisa circular.

Sopro voraz que atravessa as primaveras,

Destroncando árvores

E apagando velas.

Cavalo ainda selvagem,

Que balançando o fogo,

Faz dançar a sombra.

Passa correndo na janela,

Assovio que nos assombra...

Mago sutil que tudo vê!

Velho vento:

Metáfora diversa, suspiro original...

Vento cruel da saudade...

Vital complemento venerável da poesia.

Caco Nemer
Enviado por Caco Nemer em 28/05/2005
Código do texto: T20244