DUAS

HÁ MOTIVOS PERDIDOS VOANDO PELOS CEUS

Me deixa, poesia

Sai por aí

Vai pra folia

Me esquece

Não me enlouquece

De ninguém eu sou

Me deixa, poesia

Não me afunde na sua magia

As ruas estão cheias

De sol e de alegria

Sai por aí, poesia

Sinta o vento amando as palhas dos coqueiros

Ame os marinheiros

Os pescadores, os bêbedos e os pecadores

A moça perdida

Nas esquinas da vida

Há motivos nos becos

E também nas ricas avenidas

Há motivos no mangue

Há motivos perdidos

Voando pelos ceus

Não olhe nos meus olhos

Tristes como os de um morto

Vestido nos veus

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PASSA O TEMPO ENVENENANDO AS ALMAS

É preciso parar e ver o que nos faz a natureza

E perceber como tem prazer em destruir as nossas mãos

Em diminuir nossos olhos

Em fraquejar o corpo, em tirar o brilho à alma

É indispensável gritar para dentro de nosso ser

Ouvindo a voz desesperada e rebelde

Quem sabe não sejamos ridículos e nem tenhamos ilusão

Será necessário enforcar a poesia, desrespeitá-la, inferiorizá-la

Ou o inferno nos espera, o inferno dos poetas

Ou virão as canções, as recordações lindas e angustiantes

Ou fulgirão como relâmpagos queimando o coração a lembrança de beijos, abraços e palavras

Passa o tempo envenenando as almas