SURREALISMO

Pensando ser poeta

Embrenhei-me pela tortuosa

Rua dos Versos

Sem número

Entrei na residência das estrofes

Sentei-me na cadeira de balançar o ritmo

Para conduzir o encontro

à cabeceira da mesa

Não compareceu

A anfitriã

Senhora Inspiração

Havia na bandeja

Um ramalhete de rimas murchas

E pobres

Recusadas por um poeta exigente

Em um prato de louça

Dormia o sono dos justos

Um esquema corrompido

Uma promessa de desgosto

Prato principal do jantar da solidão

À luz de velas

Duas taças choravam lágrimas de cristal

Fugiram as musas

A poesia é um pássaro

De penas negras e lustrosas

Esvoaçantes plumas

No interior da descarga de um raio

Do quadro na parede

Um olho louco espia

De soslaio

Miro na retina

Atiro

E saio