O Estrangeiro
Dia de festa
Sol dourado, janelas floridas
Santa padroeira no andor, fogos, casamentos.
Crianças, moços e velhos, caboclos simples da ribeira
Cantos sagrados, ladainhas. Segue a procissão.
O homem
Jovem, alto, bonito, branco.
Cabelos castanhos ondulados, olhos azuis
Chapéu panamá, botinas lustrosas
Vestia terno de linho, uma brancura só.
Perfume de alfazema.
O homem
Em tudo diferente dos dali
Largou da procissão
Cruzou a rua, passos largos
Entrou na bodega do Militão
Tomou da branca, pigarreou
Saiu, tomou direção do rio
Cinqüenta metros do Largo da Matriz.
Desceu as escadas do cais, passos largos
Caminhou rio adentro
O terno branco tingiu-se de terracota
Tempo de cheias, águas barrentas
O homem continuou indo, indo
A santa da procissão parou para olhar
Toda a gente do lugar pôs-se a olhar
O homem indo, indo, sumindo, sumiu.
Tempo de cheias, águas caudalosas.
Um chapéu panamá, branquinho
Boiava rápido, rápido, longe, longe
Arrastado pela correnteza.