Vento
Vento
Vento que arrefece
Vento que ensurdece
Vento que amanhece
Vento que aborrece
Vento que parece
Vento que não esquece
A solidão que rebate
Nas lembranças onde moro
Ramos que cedem à pressão
Podem viver o que não sinto
O verde da erva não serve de conforto à vista
Que se perde no vazio da imensa paisagem
Não é turva, é miragem
Não acanha, persegue
Não lembra, refaz
Vento que acompanha dias meus sem sinal de si, de mim, do real
Abranda aos passos da chegada do inexistente
Porque está presente mas não se vê
Está na linha do olhar mas não se localiza
A noite faz a diferença
Ameaça o deslumbramento que não existiu
Troca o fresco pelo frio
Vê o que o dia não viu
Mas a sentença é comum
Não vulgarizes a perspectiva
Que alcanças numa só objectiva
O todo vale o dobro
O meio não vale nada
Eu só receio que palavras não te movam
Bons sentimentos não te iludam
Olhares amáveis não te enterneçam
A vida devolve-te
O que dela colheste
Lucraste o teu valor?
Mágoa, desassossego, rancor,
Te perseguirão
Pois o vento não pára
Nem perdoa à razão
Pela definição que lhe deu
Pelo valor que lhe escondeu
Ele sopra à força da dor
Não porque o frio é contraste do calor
Aflição corre-lhe nas áridas correntes
O vento só aborrece aquelas que são más gentes.
Lacrima D’Oro