Vento

Vento

Vento que arrefece

Vento que ensurdece

Vento que amanhece

Vento que aborrece

Vento que parece

Vento que não esquece

A solidão que rebate

Nas lembranças onde moro

Ramos que cedem à pressão

Podem viver o que não sinto

O verde da erva não serve de conforto à vista

Que se perde no vazio da imensa paisagem

Não é turva, é miragem

Não acanha, persegue

Não lembra, refaz

Vento que acompanha dias meus sem sinal de si, de mim, do real

Abranda aos passos da chegada do inexistente

Porque está presente mas não se vê

Está na linha do olhar mas não se localiza

A noite faz a diferença

Ameaça o deslumbramento que não existiu

Troca o fresco pelo frio

Vê o que o dia não viu

Mas a sentença é comum

Não vulgarizes a perspectiva

Que alcanças numa só objectiva

O todo vale o dobro

O meio não vale nada

Eu só receio que palavras não te movam

Bons sentimentos não te iludam

Olhares amáveis não te enterneçam

A vida devolve-te

O que dela colheste

Lucraste o teu valor?

Mágoa, desassossego, rancor,

Te perseguirão

Pois o vento não pára

Nem perdoa à razão

Pela definição que lhe deu

Pelo valor que lhe escondeu

Ele sopra à força da dor

Não porque o frio é contraste do calor

Aflição corre-lhe nas áridas correntes

O vento só aborrece aquelas que são más gentes.

Lacrima D’Oro

Lacrima Doro
Enviado por Lacrima Doro em 30/12/2009
Código do texto: T2003030
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