PENITÊNCIA II
PENITÊNCIA
O garfo passeia pelo ar,
mas o coração permanece distante,
e viaja pelos campos da infância
por janelas que olhares não abrem.
Por fora: campos fechados,
corpos aprisionados, arame farpado.
O enjôo dos dias infindos e tenebrosos,
de mal-assombrados espantos
sufocam esperanças e destroem encantos
por conta da noite, da solidez dos blocos,
e da rigidez das pedras que desafiam as mãos
que sangram feridas as ilusões.
Mastigo os grãos escassos desta vida,
e absorvo do garfo as imagens que escorrem,
e ainda assim sobrevivo na força da angustia sentida.
E vejo então que é tempo de despertar,
antes que a hora marcada me denuncie
por ter chegado após o instante do recomeçar.