IMERSÕES
A verdade corta meu sonho e fere
a visão fugaz, a impressão vital,
e contrai a forma sem vida, estéril,
como se eu pudesse espantar o mal.
É uma luz tão forte que desconheço
como proceder; jamais vi igual.
Sim, minh’alma encara seu próprio avesso,
e nem pode mais evitar seu fim.
Não há como estar no tempo! Eu esqueço
que essa fase crua pertence a mim
e desejo a fuga. Quem, pois, me ajuda?
Nesse mundo hostil, busco um querubim.
Mas a dimensão alcançada muda,
quando afeta tudo e faz desabar
o banal sentido e torna miúda
a maior questão que paira no ar:
― O que busca o ser? Seu poder apenas
é uma ideia falsa; não singular!
Quem me dera as luzes, por si amenas,
fossem um sinal de visão sem cor
e tornassem brandas as duras cenas.
Mas há uma esfera. em que o dissabor
só pertence a mim; nessa dor eu vago,
sem lembrar que um dia já tive amor,
sem saber de um gesto que seja afago.
Nilza Azzi
nilzaazzi.blogspot.com.br