Balada da moça que penteava os cabelos

Mal tinha Deus sepa-

rado a luz das trevas

e soprado no pulmão

de Adão a luz da vida

e a moça na flor dos

seus quartoze anos já

penteava vagarosa-

mente seus longos

cabelos na Rua Gen.

Marquês Cintrão de Oliva,

casa nº 45, defronte

à marcenaria de Pedro,

velho aposentado, que

tinha de seus apenas três

gatinhos e um canari-

nho feio, verde-oliva.

Quando estourou a Revo-

lução em 1930 e Vargas

assumiu a Presidência da

República, um comboio

armado tomou conta da Rua

Gen. Marquês Cintrão de Oliva.

Os três gatos de Pedro,

o marceneiro, ficaram

num alvoroço dos diabos,

miando efusivamente

o hino do Brasil. E o cana-

rinho, que recusou a se

juntar ao coro, foi devora-

do por alguém em pleno

meio-dia, mas isso ninguém

viu nem comentou.

E a moça, aquela que

penteava vagarosamente

seus longos cabelos, ficou

feia, velha e gorda

e morreu de pneumonia

quando o Gen. Costa e Silva decretou

o Ato Institucional nº 5.

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Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 28/12/2009
Código do texto: T1999066
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