Aos meus filhos...
O que deixo aos meus filhos?
Deixo a herança da minha educação.
A humana consciência de que fiz o possível para que fossem íntegros.
A paz de espírito em saber que estive presente no desenvolvimento de seus primeiros passos.
Deixo a meus filhos o exemplo maior de cidadania: a possibilidade de, eles próprios, trilharem seus caminhos.
Do suor de meu trabalho, fez-se brotar as sementes plantadas na terra-sociedade e que já são árvores vistosas, prontas a darem frutos.
Deixo que impere a igualdade em suas vidas, na medida em que conquistarem suas vitórias com árduo esforço.
E que regorjeiem da liberdade tão rara e ao mesmo tempo tão presente no íntimo dos homens.
Deixo que as idéias fluam naturalmente e que ninguém, absolutamente ninguém, repreenda-as.
Deixo, assim, o respeito que transpareci em minhas atitudes, meu caráter, minha forma de agir, meus pensamentos. E que, a partir dele, meus filhos possam cultivá-lo e terem motivos para serem respeitados.
A meus filhos deixo a tolerância que sempre tive aos seus mimos, teimosias e desobediências, o que não quer dizer que passei a mão em suas cabecinhas quando a intenção não justificava o erro, nem deixei de passá-la quando o instinto de pai falava mais alto.
Que fique, de mim, a coexistência de todos os valores e virtudes que o ser humano possa expressar, não sendo hipocrisia de minha parte esquecer-me dos defeitos e vícios, mas é que, em face às imperfeições humanas, é preferível demonstrarmos aquilo que temos de melhor a oferecer.
Assim como eu deixo a gratuidade de meus gestos, quando permitir que fossem a festas da escola, ao parque no domingo, ao passeio da igreja, ou quando aguardei, ansioso, o maior presente que eu queria receber no meu aniversário: um abraço bem apertado
Que meus filhos saibam exercer a valorização do outro e ao outro, enxergando-se como irmãos de sangue, de fé e de união.
Que o que deixo possa tornar suas vivências cotidianas uma trajetória democrática rumo ao que tanto se almeja para o mundo: paz.
Que eles possam, mediante o que deixo, usufruir de um padrão de vida, não do padrão de Ana Paula, mas de um padrão onde todos se satisfaçam e que não haja ninguém arrotando de barriga cheia ou roncando de fome.
Eu quero e deixo a eles a valor da ação, do fazer-se agir em prol dos outro e de si mesmo, do não alienar-se, da não submissão aos maiores e negligência aos pequenos: da não injustiça.
Em todo o caso, quero deixar a meus filhos a inabalável vinculação que tive com os mesmos, e que, agora, parte-se em matéria, mas permanece em lembranças. Eu vou embora, para nunca mais voltar; porém, vou-me com a certeza de que eles perpetuaram este vínculo com suas futuras sementinhas: o agricultor e sua plantação.
O que deixo a meus filhos?
Isto não consta no testamento. Mas todos sabem perfeitamente o que deixo.
Os bens mais preciosos de minha existência e tão cobiçados por entre as nações:
Deixo AMOR e EDUCAÇÃO!!!