ONTEM

Agora tenho mãos esfoladas

Sangrando feridas

Assim como uma nau fundeada

Formam borbulhas

De nada

Mãos cegas tateando nas paredes da caverna

Mãos bêbadas

Riscam um nome

Na mesa de uma taberna

Procuram em vão

Desenhar um encontro

Criar um enredo

Esconder um beijo

Revelar um segredo

No fundo da retina

No âmago de um medo

Amanhã terei passos pesados

Caminharei sobre as pedras

E sentirei da angústia o estertor

Depois de amanhã

Meu sorriso despencará no precipício

E restará lá no fundo

Paralítico

Depois de depois de amanhã

Será o ontem

De um suplício