NATAL E O PÉ DE MANDACARU.

NATAL E O PÉ DE MANDACARU.

Fiz do meu pé de mandacaru, minha árvore de natal.

Ornei com samambaia, pus caroço de manga no lugar das bolas;

Das castanhas de caju, de uma fiz eu, de outra fiz tu:

ficaste no cume disputando a estrela guia vestida de carambola

enquanto fiquei embaixo, rezando a Nossa Senhora...

Para iluminá-la inteira, da base até o cume,

salpiquei de vaga-lume igual uma procissão.

Um piscava outro piscava,

um namorava outro beijava,

um acendia outro apagava, como sendo saudação!

Cada palma foi vestida de celofane e papel crepom

cada pássaro que ali chegava

se encarregava de passar o som:

o bem-te-vi, bem-te-via

o concris, conCRISTO servia

o canário entoava um canto Australiano, enquanto

o ferreiro, imitando o trinar do sino,

saudava aos ventos o nascimento do Menino!

Meu pé de Mandacaru nunca se viu mais garboso:

o entardecer do sertão completou esse cenário!

No cair da tarde, sem alarde,

deita perto da árvore o jumento da manjedoura;

o galo meio arredio, começa a farfalhar,

enquanto o sapo tranqüilo, começa chamar o grilo

para o coral ensaiar!

O coaxar do sapo, o cantar do grilo, o estribilho do galo,

ficaram desafinados

com o vocal da cigarra cantando qual maestrina...

O dia amanhece e era natal:

meu pé de mandacaru refletia eu, tu e os demais.

No alto da árvore, enramava exuberante pé de maracujá:

em cada canto uma flor roxa lembrava o sangue do criador

como mostrando a ironia da flor:

se o riso elas alegram

não relegam também a dor!

Fiz do meu pé de Mandacaru, minha árvore de natal

sem saber que seus espinhos, repicavam com carinho,

a saga do pecador!