SAL EM BOCAS SECAS

SAL EM BOCAS SECAS

Eduardo B. Penteado

Nunca quis tanto dizer o contrário a alguém

Sem poder e sem querendo

Nunca quis tanto dizer adeus a alguém

Simplesmente para continuar vivendo

Dizer adeus a alguém

Que um dia eu já disse ser sinônimo de vida...

E continuo dizendo?

Dizer adeus à vida

É uma piada de mau gosto

Que infelizmente não é de minha autoria

Fosse, eu a calaria.

O piadista covarde voltou-se contra meu riso

Tirou-me o doce, o palhaço vingativo

No entanto

Enquanto tratava-me como menino arteiro

Castigou-me como adulto infrator

Plantando uma semente de dor

No mais íntimo e piegas canteiro:

Uma dura semente de esperança

Que tomou-me o espaço inteiro.

A terra era ruim

Salgada de lágrimas

Mas a esperança, desgraçadamente,

nasceu.

Se alimenta de mim, aos nacos

E tudo ao redor, aos poucos,

morreu.

E nessa batalha absurda

Perderei enquanto houver esperança

Enquanto houver esperança?!

... nunca acharia as gaivotas cruéis, pensava eu.

Mas neste momento o céu está cinza

E posso ver várias procurando abrigo.

Devem estar indo para casa

Ou algo parecido.

Enfim,

Nunca quis tanto dizer adeus

Nunca tive tão pouco a dizer sobre Deus.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 18/12/2009
Código do texto: T1985130
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