ABAT-JOUR

ABAT-JOUR

Eduardo B. Penteado

Consegui.

Consegui finalmente ser inacreditável!

A porcelana eu quebrei

A flor do campo

Esmaguei,

Sob um coturno imenso

Ha, ha, eu sei.

Aproveitei

E arrotei no meio do poema

Contei o final da piada engraçada

"Por que me olhas assim?

Com minha besta abati o albatroz."

Que engraçado...

Mas qual é a graça?!

É horrível eu já ter lido isso em algum lugar.

Há muito tempo,

Um albatroz era apenas um pássaro

Ainda não era um albatroz

Chega.

Já sei,

Já sabemos onde isso vai dar

Mas será que vai dar?

Você ainda está aí?

Talvez.

Talvez seja melhor calar-me

Escrever a noite toda ou mesmo

sair.

Embrenhar-me em velhos guetos

Tentar-me, divertir

Besuntar-me de tudo aquilo que resolvi execrar

Acordar ao lado de um cadáver

E distribuir minhas farpas ao amor personificado

Como a besta que abat...

...jour. Dia. Luz.

Sim, como eu queria ser um abat-jour!

Não, não é bem isso.

Não é nada disso!

Ainda não completei a transição

Ainda não escrevi a canção

Que todos hão de cantar...?

Ora, cale-se!

Alguém está pedindo para deixar a luz do sol

entrar.

E na TV muda

Alguém agora está morrendo

Não sabia que podia-se sangrar tanto,

em silêncio.

E na TV nada muda

Um filme que eu com certeza já vi

Mas hoje talvez ela esteja certa:

Talvez eu deva mesmo fazer uma pausa

Uma breve pausa desperta

Um breve basta, por que não?

Na obsoleta programação

Para poder dormir e acordar num novo dia...

Sempre!!

Eu sempre gostei delas

Mesmo quando a TV era preto-e-branco

Eu sempre gostei dessas barrinhas coloridas.

Hoje, nem tanto.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 18/12/2009
Código do texto: T1983928
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