SER MAR
Sob os efeitos lunares, transbordo...
E por mais que meus líquidos vazem
A cada sol, em sal, se recompõem
Pondo-me novamente no turbilhão
De cheia e vazante e marés infindas
Ondas e ondas e ondas que engolem
E vomitam espumas de fel, de mel
De ar, de céu, de sol, de terra, vento
E o alento que me cobre é essa brisa
Serena e morna que vem, toda tarde,
Sem fazer alarde, beijar a minha alma
Lavar a minha boca e me devolver
À luta de mais uma noite e um dia
Contra essa doce agonia que é ser Mar...
(Lena Ferreira)