Paredes
lisieux
Os batentes da porta estreitam-se, fecham-se, unem-se... solidamente juntos, viram parede, muro, prisão...
Tateio em busca de uma janela, uma fresta, greta... não há!
Sufoco! A boca seca, arfante, abre-se, sorvendo o ar rarefeito, que não chega até os pulmões, que não alivia a dor no peito, não tira a ânsia de náufrago.
As paredes se aproximam umas das outras e eu, no meio desse aposento de pesadelo, espero que elas se unam, prensando-me o corpo, esmigalhando-me os ossos, estilhaçando-me os músculos.
Os olhos, acostumados à escuridão densa e sombria, fixam-se na parede à minha frente, exatamente onde há instantes, havia a porta. Porta que desapareceu quando tu ultrapassaste a soleira, silencioso adeus.
Quando penso que o meu fim é fatal, milagrosamente a porta reaparece e tu adentras o quarto. E, com o teu sorriso, vão-se: a escuridão, paredes, vazio, medo.
Um salto até os teus braços, boca ávida a buscar na tua a seiva da vida, abro os olhos e me admiro com a súbita claridade.
E tal qual Phoenix, das cinzas, renasço.
BH – 07.11.03
Por não saber como classificar esses textos curtos (ou sempre chamo de prosa poética), publico-os aqui... risos