HONTEM

HONTEM

Eduardo B. Penteado

Sinto-me oco

Então bebo da água de hontem

Ela tem gosto de ossos secos

E resquícios de outros gostos

A água de hontem tem gosto de corpos

Frios corpos funestos

A água de hontem sai de corpos mortos

Corpo, rosto, objeto

Encho o meu copo e acabo com o fastio

Encho o meu corpo de um espaço vazio

Sinto-me louco

Então inundo-me da água de hontem

Ela tem gosto de vermes secos

E resquícios de outras mortes

A água de hontem emana dos cortes

Na pele de corpos inertes

Dermes

De onde exala o odor mutilado

Enoja-me a visão de meu corpo jugulado

Sinto-me pouco

Então afogo-me na água de hontem

Ela tem gosto de todos os meus medos

E resquícios de velhos horrores

Ela encerra espectros e esqueletos

E ressuscita minhas dores

Neutraliza minhas cores

A água de hontem secou as minhas flores.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 14/12/2009
Código do texto: T1976829
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