BRAZUCA

Fui eu que inventei o silêncio

No intervalo do canto dos canários

Fiz as pétalas da rosa-dos-ventos

Que não servem ao destino dos pássaros

Sou eu que dou corda ao relógio

Que faz girar a eclíptica da Terra

Coloco lenha no fogo fricativo

E amolo as presas das feras

Vai, com tua prancha, brazuca

Açucarar as águas do mar

Vai, entra no mar, brazuca

Com tua prancha pronto para voar

Sou eu que congelo os oceanos

Para os pingüins alterarem seus planos

Indico rotas seguras para o espaço

Que se desvelam quando os homens se descobrem

Se me esquecem, simplesmente me desfaço

E apareço nos seus sonhos mais nobres

Sou aquele que cegou os argonautas

E pôs a Terra nos ombros do Atlas

Vai, com equilíbrio, surfista

E acaricia minha língua marítima

Vai, me contagia, brazuca

Com tua força de fogo e açúcar

A minha boca é o cinturão de Órion

E o meu sorriso, sutil de alegria

Mas quando pensam que rio, eu choro

Se não dominam a própria letargia

Fui quem ordenou os moais

E levou para as montanhas os lobos

Depois separou os casais

E em seus olhos botou luz-estrobo

Vai, entra na água, brazuca

E apazigua minha criação maluca

Vai, irreverente brazuca

Com tua bandeira pronto para a luta

Caco Nemer
Enviado por Caco Nemer em 26/05/2005
Código do texto: T19766