BRAZUCA
Fui eu que inventei o silêncio
No intervalo do canto dos canários
Fiz as pétalas da rosa-dos-ventos
Que não servem ao destino dos pássaros
Sou eu que dou corda ao relógio
Que faz girar a eclíptica da Terra
Coloco lenha no fogo fricativo
E amolo as presas das feras
Vai, com tua prancha, brazuca
Açucarar as águas do mar
Vai, entra no mar, brazuca
Com tua prancha pronto para voar
Sou eu que congelo os oceanos
Para os pingüins alterarem seus planos
Indico rotas seguras para o espaço
Que se desvelam quando os homens se descobrem
Se me esquecem, simplesmente me desfaço
E apareço nos seus sonhos mais nobres
Sou aquele que cegou os argonautas
E pôs a Terra nos ombros do Atlas
Vai, com equilíbrio, surfista
E acaricia minha língua marítima
Vai, me contagia, brazuca
Com tua força de fogo e açúcar
A minha boca é o cinturão de Órion
E o meu sorriso, sutil de alegria
Mas quando pensam que rio, eu choro
Se não dominam a própria letargia
Fui quem ordenou os moais
E levou para as montanhas os lobos
Depois separou os casais
E em seus olhos botou luz-estrobo
Vai, entra na água, brazuca
E apazigua minha criação maluca
Vai, irreverente brazuca
Com tua bandeira pronto para a luta