Entrelinhas

Um poema

É mais o não dito

Do que o escrito.

O poeta comunica

Mais nas entrelinhas

Do que nas linhas.

Economiza palavras,

Sem desperdiçar emoção.

Rubem Alves ensinou

Que o poeta fala pelos espaços vazios

Que se abrem entre as palavras.

As palavras servem então

Para demarcar os espaços vazios,

Já que são invisíveis e indizíveis,

E compor o contorno do poema,

Porque na verdade as linhas

Apenas entrelaçam as entrelinhas.

É o silêncio entre as linhas do poema

Que transmite a mais linda melodia

São as palavras não escritas, entrelinhas,

Que contêm toda a arte da poesia.

É também de Rubem Alves:

O poema é um transbordamento

da alma do poeta, e a canção,

da alma do compositor.

Para Álvaro de Campos,

Poesia é uma construção de palavras

Em cujas gretas se ouve outra voz,

Uma melodia que faz chorar.

E como disse o Pequeno Príncipe:

“Só se vê bem com o coração,

o essencial é invisível aos olhos.”

Da mesma forma,

Só se lê bem com o coração,

o poema é ilegível aos olhos.

(Catalão, 07/12/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 13/12/2009
Reeditado em 21/12/2009
Código do texto: T1976411
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