ÚLTIMOS VERSOS
Quem lerá estes meus últimos versos? Não sei. Mas deveria ser alguém de extrema beleza!
Nos interstícios da Natureza
O Nada constrói seus castelos,
Onde, em eterna dança,
Caos e Ordem se equilibram-
Como uma Agulha penetrando um Anel
No meio do Oceano.
O Inconcebível, o Incompreensível
O que permanece, o perene
São máscaras aderentes
A um rosto esvaescente e fugaz.
O Inobjetivo, que nos une,
O Objetivo, que nos desune.
Essência, livre do Sensível
E do Inteligível.
O problema da Noite é este:
Ela nunca nos encobre por completo:
Há sempre um pouco... de algum lugar,
A descoberto.
Que sonho seria estar totalmente imerso,
Sob o encanto das ondas,
Mas longe de seus apelos de sereia.
Estrelas sobem o
Orco da Noite
Como caem
Uma após outra
As contas do colar da Mente.
Múltiplas, lunares
Vêm as Idéias,
Quebrando as teclas
Do Piano da Vida.
Dizem: Faça, execute a peça...!
Escapo e martelos.
Mas elas insistem no monoton,
No som cúbico da
Hora parada.
O Universo nasce de uma síncope:
Estrelas, mentes, lodo. Existências
Indefiníveis
Em harmonia extrema
Caminham com o Véu
Da Inconsistência.
Onde aplicar a Força?
No Presente Suspenso...
Tempo, um nó do Possível,
Bússola no Pólo
Calma sucessão
Auto-intersecta de
Momentos...
As avenidas do Pensamento.
Por reflexão, eles são um.
Dessacralizamos a miragem do Eu
E vertemos todo o conteúdo do Cálix.
O pranto dos monges nas celas
Da Razão é finito-
Chama de astro parado,
Rosa e Nuvem.
Que me espera?
A Grande Tormenta que nos ama e define, ou
A Suprema Ironia, a Curva dos Maremotos
Da Mediocridade?
O sabor da etérea Fonte do Amor
O colorido sopro do Espírito-
O Titã, a Lágrima
Que dissolve os próprios segredos.
Espelhos mostram o futuro,
Mas só aos cegos.
Ao que crê, dão a Possibilidade, a Mágica.
Ao que obedece, dão a Face do Mestre.
Ao belo só retornam a Beleza Ingênua.
Ao rei, a Púrpura.
Ao guerreiro, o Sangue.
Mas ao que procura Compreensão
Eles oferecem dúbios reflexos.
Oh.