Poema mudo
Uma letra, uma figura
Um vestígio de palavra
Brota na essência do espírito,
Ora tímida, ora avassaladora.
No crepúsculo ou na aurora
De tempos em tempos ou agora.
Beabás de lamentos
Sujeitos indefinidos
Artigos de desejo
Composições num gemido
Na têmpora franzida
Rabiscos sem sentido.
Na junção das palavras
Frases embriagadas
Em intrépidos vocábulos
Que arrebatam as asas
Da imaginação que se alarga
Na imensidão da gramática.
Incansável busca pela grafia
Para a arte sublimar
Mas é tão bela e branca poesia
Que se prima sem rimar
E o poeta geme por sua obra
Tão bucólica e sem par...
Verbos, sujeitos, expressão
Laqueiam o alento do poeta
Encerrando a alma aturdida
Mais uma vez do irrequieto parto,
Embebido de alegorias o poema,
Mudo, mas que fala bem alto.