A habitante do quarto dos fundos

Todos os seus atos eram mecânicos

Mas, seu espírito...

Parecia ter vindo de um bosque

Emergia da escuridão do quarto dos fundos

E iniciava as tarefas da casa

Dia-a-dia limpando meu universo imundo

No rosto, carregava traços do tempo

Na boca reta, suspiros de esperanças métricas

Ah, como era-me estranho vê-la comendo frutas cítricas

Mastigação ofegante, chupava-as fazendo barulho

Aquela dentição brilhante sempre à mostra

Espanando e cantarolando suas cantigas de roça

Às vezes, subtraia valores deixados ao esquecimento

Nutria-se de forte crença e discretamente presenteava sua mãe

Com gêneros perecíveis de minha despensa

*Baseado em: “A criada”, conto de Clarice Lispector

Marciano James
Enviado por Marciano James em 12/12/2009
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T1974168
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