fuga de mim

olha

não volto aqui tão cedo

vou dar uma fugida

vou ganhar o mundo

vou cair na vida

sair por aí...

sozinho

seguir por qualquer caminho

que me leve a qualquer lugar

deixo um adeus provisório

saio de um jeito insensato

deixo um poema sensório

e chato

escrito no espelho

puro teatro

deixo tudo que conquistei

que não me vale de nada

levo as madrugadas

os amanheceres

o mar

os prazeres

deixo o trabalho

e os afezeres

minha insonia ficou pelo quarto

deixo o meu retrato

pra lembrarem de mim

levo meu fogo brando

um par de sapatos

e os nós que eu tinha

me apertando

hoje eu desato

me liberto

deixo pra tras esse deserto

que já foi um jardim

mas secou

quando as chuvas cessaram

deixo as lágrimas

que me escorriam no rosto

levo uma camisa surrada

pra não deixar o meu peito exposto

pra me guardar do frio

vou com a roupa do corpo

a barba por fazer

deixo o conforto

e mais o que fazer

deixo as janelas fechadas

e uma luz acesa

para se alguem entrar na casa

não tropeçar na tristeza

para enxergar minha falta

deixo a TV ligada

bem alta

para esconder o silencio sombrio

que me causava tanto medo e arrepio

deixo algum dinheiro guardado

que sirva pra pagar nas contas

deixo a chave debaixo da porta

a louça lavada

a comida pronta

a casa mais ou menos arrumada

a cama feita

as promessas desfeitas

não importa

alguem deve sentir falta de mim

mas com o tempo

tudo se ajeita

deixo restos de um velho amor

dormindo

quase em coma

que não me causa mais sintomas

deixo minhas lembranças

nas fotografias amareladas

nas poesias rasgadas

coisas de adulto

coisas de criança

deixo raiva e revolta

mas quem sabe

essa noite passa

minha cabeça se tranquilize

meu pensamento se refaça

eu perca esse medo

e amanhã de manhã

bem cedo

esteja de volta

jose luis lacerda
Enviado por jose luis lacerda em 12/12/2009
Reeditado em 12/12/2009
Código do texto: T1973946