Espada Dourada

Voar inconsequente e

voar razante,

é o mesmo dedal,

voar junto,

às coisas

cujo princípio

é o medo

e o final, é a angústia.

É a mesma linha.

Voar, sem pálida força,

que retém o impulso,

voar, sem rumo

diante do que nasce,

e os que estão para partir,

é o fio que sufoca!

Em plena madrugada de ruço!

Assim é uma vida,

assim é o início dela

ao mesmo tempo

que faz nenhum paralelo.

Não há mais saídas

dentro deste túnel,

emborcado em direção ao norte;

não há mais entradas

que faça o zero se transformar

numa esperança a

não ser em mais algarismos

dss dores.

E os dias passam distraídos:

um dia você é,

noutro se foi;

numa hora, de pé,

noutra, em pleno vôo

desaguadado.

E se chamarem de angústia

o plano de esvoaçar no

arquejado azul,

a gente acerta duas vezes:

na primeira as coisas

deixaram de passar;

na segunda, já não

passam mais, nem como

sombra da espada.

Mas se é uma história

ela começa nos meus dedos

e termina por tentar

alcançar estátuas,

que se misturam ao séculos

que não têm idade.

E onde mora a morte

que já tem meu nome!

II

Uma pétala de rosa:

Foi só o que consegui fazer,

neste dia que sol bate fundo,

e arranha o espetáculo menor

do meu interior.

Calejado de augustos e

esperas. Hoje sou só eu!

Hoje, foi só o que consegui:

chorar de lado,

e tentar entender

que o que começa acaba,

mas o que acaba fica prá sempre;

como uma espada dourada

cravada no fundo d'alma.

Foi uma pétala de rosa

que eu comprei no bar

da esquina

que, nessa época,

vende aguardente

e flores.

Optei por ambas:

estavam juntos demais,

coesas e fincados no

espírito de duas perguntas

e nenhuma resposta.

Andei prá um lado

e para o outro,

como bonde de

um trilho só,

e, me perguntando,

se eu perdi, perdi

avulso.

Tristeza veio na hora,

todo mundo chorou,

mas o tempo passou

agreste e dividido,

e tudo como um mormaço,

adendo de suor,

foi esquecido.

E me pediram para falar.

Falar o quê?

Se não há sentido nem

para festejar,

nem prá chorar?

E disse um proverbista

de ocasião:

o que tem hoje

falta amanhã.

Por isso deixe o dia

passar como se nada

houvesse acontecendo

dentro de você.

Finja como uma criança

que surrupia um doce.

Mas, lá fora, reis e rainhas

brindam um dia qualquer,

que não quero nem saber o nome,

porque dele nada me resta:

a não ser a rosa rubra

e uma imagem que o

tempo está levando e

cada dia fica mais longíncua

e brade meu coração

de angústias!

Hoje, meu senhor,

não comemoro nada!

A vida me ensinou

prá deixar passar.

E,se ainda duvida,

visita me coração,

e pergunte pela vida dela.

Todos vão dizer:

já foi...já foi,

como o vento

que carrega o amor!

José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/07/2006
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