Resta o que resta
Vaguejar no nada
como uma sombra
Repisar velhas palavras
As mesmas lembranças
Pisadas
As velhas moradas
Dezoito anos
Vinte e três
Vinte e seis
Trinta e dois
Quarenta e três
Aquelas risadas
As portas rompidas
As janelas quebradas
Dessa coisa que chamam vida
Esses estranhos labirintos
Que me trazem sempre aqui
Para o mesmo lugar, este aqui
Resta esse mesmo insuportável silêncio
Dentro de mim como uma ânsia
Esse não sei o quê
Que bem sabemos o que é
Essa vontade de não ter vontade
Esse medo de ter coragem
Esse não querer lutar
Deixar para trás estranhos rastros
Estranhos restos de mim mesmo
Que é o que resta de tudo o que não fui
Tudo o que não fiz ou não quis
Tudo o que não pensei
E não disse ou não sei
Esse vazio que não me contém
Mas que está em mim contido
Vaguejar como uma sombra
Pelos mesmos sinistros caminhos
Fugir tão depressa de todos os lugares
Para chegar exatamente aqui mesmo
O lugar de onde nunca saí
Este lugar aqui
Este mesmo lugar
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 09/12/2009
Reeditado em 28/08/2021
Código do texto: T1969663
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