Invertendo posições
Quem dera fitar nos olhos do anzol
E indagar qual seria a sua reação
Ao ver o peixe fisgado debatido
Morrendo ele de fome pela boca?
Fixar bem no olhar do ferrador
Se sente dores ao demarcar o cavalo
E em vez de registro de nascimento
Ele fosse datado e marcado com brasas?
Pôr o peão cara a cara com o boi
E barganhar as posições e selas
O boi arredio em cima do peão
E o peão sendo furado pela espora?
O leão dizer ao seu vil domador
Se ele gostaria de tomar chicotadas
Correr imposto dentro do picadeiro
E o leão como rei, sofrer e ficar calado.
O prego com a cabeça doendo
Praguejar para o martelo viril:
‘Querias tu ser jogado na fornalha
E virar limalha de ferro em pó?’.
O sabiá cantar abdicando em notas
Conscientizar assim o seu martírio
Com aquele que um dia o prendeu
Só pra ver se preso ele cantaria.
Olhar para a fisionomia do rato
Encarando o gato cara a cara
E este não ter pra onde correr
E um cachorro acabasse a festa.
Diria ao caçador a indefesa perdiz
Se ele gostaria de tomar chumbo
Em pleno vôo evadindo do perigo
E se cair ferido ser abatido pelo cão.
Ou diria o touro para a alegre arena:
‘Olé! As flores jogadas são para mim
Por eu me safar de mais um toureiro
E ser de borracha a espada aguda!’
Será que o mundo sempre foi desordenado
Ou nós nos fizemos desordenados?...
Eu já não sei de mais nada!