Minhas mãos
Feitas para confraternizar
Nem sempre souberam confortar, afagar.
Minha boca
Feita para soar palavras de amor
Constantemente profere palavras que causam dor.
Meus perfeitos braços,
Feitos para o amparo,
Tantas vezes esquivou-se do terno abraço.
O meu ouvido
Feito para ouvir a verdade,
Em muitos momentos ficou surdo, perdido.
Meu coração, compasso da vida,
Feito para a compaixão e misericórdia,
Por vezes entregou-se ao reino da discórdia.
Minhas pernas
Feitas para trilharem a estrada da retidão,
Inúmeras vezes perderam a direção e enveredaram pela vereda
Onde o nada é tudo, e onde o tudo é em vão.
O juízo, a razão
Compactados na perfeição do inimitável cérebro,
Permitem-me a inteligência plena, a sabedoria,
Mas que uso faço dessa faculdade,
Senão viver questionando a superior existência dia-a-dia?
Pai! Por que ainda assim me amas tanto?

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Tu fostes concebido à minha
Imagem e semelhança,
Os teus percalços e tuas dúvidas
Aproximam-te de mim.
Não serão teus humanos defeitos
Que romperão nossa aliança,
Haverá o dia que teu espírito apascentará,
E a compreensão da minha glória
Invadirá o teu coração,
Neste dia tu compreenderás
A que vieste.


29/06/2005
ANDRADE JORGE
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