Ladeira
Detesto essa ladeira.
Lambuzada de lama a vida inteira.
La em cima do morro tem coisa bonita, singela.
Dinheiro na burra, vestido de seda, angu quente na panela.
O morro chama. A vida empurra.
E o povo sempre querendo subir a ladeira.
Comprar vestido novo, se fartar de angu.
E quiçá encher a burra.
Mas a ladeira, essa danada!
Sempre, sempre lambuzada.
E o povo iludido e meio cego, só faz ver o morro.
E diz “Vamos subir!”
Mas quando se dá conta, desata a rir (de si).
De tamanha estupidez por não ter percebido,
Antes de começar a caminhada
Não percebe a ladeira lambuzada
Talvez porque estivesse iludido,
Caminha, caminha, caminha
E jamais sai do lugar.