NÃO E NÃO

Ah, não

Não e não

Fossem outras as circunstâncias

Teria seguido

Voando

Ah, não e não

Que é isto que vejo

Queima meus olhos

Num lampejo

Raios e trovões

Partem ao meio

O despropósito da vida

Ah, não

Não e não

Abre-se o chão

Vomita o vulcão

Atormentado o mar

Banha de pranto o luar

Tão alto sobe

Tão alto e nobre

Desespera-se em seu leito

De areal salgado

Ah, não

Não e não

Não quero ouvir tua voz de águas

Azuis

De ondas loucas

De espumas alvíssimas

Ah, não

Não e não

Nada me digam as estrelas

Fecho agora os meus ouvidos

Não me olhem, astros

Com seus brilhantes vestidos

Ah, não

Não e não

Passem essas nuvens estiradas

Matizadas do por do sol

Hoje, eu não quero teu lençol

Ah, não e não

Não vejo o breu da noite

Meus olhos também escurecem

Nada mais querem avistar

Ah, não

Não e não

Não quero as praças

Os pássaros

Quero o silêncio

E de Deus as graças

Em coisa alguma quero pensar

Preciso tanto remar

Remar

Remar

Ah, não

Não e não

Não quero o canto

Nem o pranto

Ah, não

Não e não