((( INCO(DO)LOR )))
Sei que no adeus, há também reencontro, e que na morte, outra vida aconteça. Ainda que nunca venhamos a conhece-la. Como nunca a conheci, não sei quem você é. Não conheço as pessoas que me cruzam olhares, que correm como formigas, que trabalham como formigas, frágeis como formigas. Sei do planeta-formigueiro, das civilizações sugadas por tamanduás-bandeira, sem ordem nem progresso. Sei das mentiras que me saem, sem permissão, sem prévia consulta, decidindo o "melhor a ser feito", numa conveniência inconveniente. Dessas minhas vontades sei muito pouco, só aparecem quando te vejo. Também me confrontam, me condenam, me poem "em meu lugar." Mas, observe, meu lugar é aqui? Quem disse que estando aqui, estaria em algum lugar? De que lugar você veio? Como veio parar no mesmo lugar que eu? E se eu estivesse em seu lugar, eu próprio me quereria? Me apeteceria a minha própria imagem? Ou, carcomida pelo vício, afastaria teu tendencioso espelho? O que vejo em mim se reflete no que tú vês, ainda cego pra mim. Quero então a tua visão azul, tão fotogênica como o céu, e tua pele de neve, tão alva e fria quanto o sol é pra mim. E que a hora no teu pulso corra igual a minha, numa coincidência planejada. E que assim haja calor em meu quarto e chuva em meu banho. E que o teu olho (me enxergue) azul, seja como um céu. Nublado.