Ser, de repente um acaso,...

Ser, de repente um acaso,

Rabo de serpente, caco,

Reflexo apagado de um vidro

Um aroma que passa desapercebido

Olho de vidro, vesgo & torto,

Foge da praia, velho & morto,

Galho quebrado sem apoio

Caso passado, magro & roto,

Aquela fulana no seu horto

Casa, casebre, um afago outro,

Tirante e degraus do seu porto

Quanta fumaça, outro trago,

Quase não choro outro copo

Pouco me sobra, guardo um troco,

Sem fala macia, me largo rouco,

Traz a cadeira, sentado ouço,

O meu & o teu, de novo cansado,

O aperto nas mãos, tiro o sapato,

Raso, descalço, visto um farrapo,

Pra enxugar suas lágrimas, um trato,

Sem trabalho, sem nada, não sei o que faço,

Se faço, não acho, viro um caco

No olho de repente, pense, facho,

O lado sem luz, que não apago,

Um brilho procuro, pra sair do poço,

Nada se faz sem esforço

Que de esboço, torço & torço,

Para no dia seguinte ganhar um abraço

Nada é sempre justo, ajusto, desfaço,

Nem calor, nem chuva, apenas mormaço,

Um outro copo, mais um trago,

Para ter esperança enquanto posso.

Peixão89

Na Canalha - 1998

Peixão
Enviado por Peixão em 04/12/2009
Código do texto: T1960808
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