Tango tridimensional

No fundo o que há de certo,

é a náusea, a perplexidade e a solidão.

Em resumo, o que se pode fazer,

é interpretar essa dança que prossegue,

a despeito de minhas frustradas tentativas,

de instaurar o silêncio.

O ar é carregado de fumo, e chumbo,

enquanto prepara-se a bebida vermelha.

E no centro, indiferente,

segue o casal de corpos iguais,

numa dança que de tão indecifrável,

preferi não retratar.

É tudo maldade e desejo escondido,

quando o olhar de um cruza as pernas do outro,

e a circulação se torna mais delirante,

até que o acordeon encerra o tango,

e já não resta nada a não ser frangalhos

de corpos que se exercitaram caoticamente,

e que se sentem felizes por serem tão sujos.

Eu sou um insulto e uma solução.

O corpo que estava alí era o meu,

e do ponto mais obscuro, de um canto do salão,

ainda decido se continuo ou se morro.