Bastiã

Serena Bastiã,

sempre enclausurada

nos pórticos

dos devedores.

Calada e bucólica

enfrentou

o sol e a morna chuva

a procura da

chave mágica da vida.

Não achou, porque

nunca esteve lá lá.

Voou.

Pro céu, bem longe,

rompante, balançando pontes !

Dizer, agora, não é possível.

Ela já se foi nas alguras

do tempo,

e se misturou na multidão

que tem nome de sofreguidão

e formou-se

um elo de perdão entre seu

vazio

e o vazio das vidas que não se vêem.

Bastiã morreu de solidão,

viva ficou um tempão,

encondida no arauto da vida.

Seu nome padeceu

somente por algumas

horas no estertor da vida.

Depois desapareceu

como as aves

que serenam a noite.

Bastiã, de rosto cheio,

poderosa e crédula,

morreu assim,

sem vez nas

dobras do espaço.

Bastiã de corpo rígido

foi desamada a vida toda

- pajém de reis -

E jamais encontrou sua vida.

Em lugar nenhum se encontrou.

Morreu pobre e esquecida,

como uma folha de vento

que a gente pisa,

e esquece.

José Kappel
Enviado por José Kappel em 17/07/2006
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