Aprendiz

Ando envolvido com a estranha alquimia de setembro,

pesquisando as mutações lunares nas sonatas das marés,

estudando, à exaustão, a vocação da luz

nas observações sonâmbulas do farol.

Ando ocupado a decifrar o alfabeto do sol

no balé aéreo das abelhas, na orientação geográfica das formigas,

com o código estelar que guia os pássaros em noturnas incursões,

com a influência das temperaturas no relógio da roseira.

Ando envolvido a estudar o itinerário circular dos cata-ventos,

as navegações sem bússola na elíptica dos girassóis.

Tenho me dedicado a entender o fuso horário da insônia

e a decifrar as sílabas de luz dos vaga-lumes.

Ando aprendendo socialismo com as laranjas

que dividem o sol, por igual, na laranjeira.

Tomando filosóficas lições de humildade

com o ipê que sede a seiva para a arte das orquídeas.

Tenho relido Neruda na insurreição das ondas reclamando residência...

Na canção desesperada que o mar canta nas conchas.

Ando sempre ocupado observando a primavera

que em bando aborda a praia no regresso das gaivotas.

Estou sempre me ordenando aprendiz de poesia

toda vez que os gerânios se embandeiram de aurora,

na fase nova da lua quando a noite excita os gatos

e um violino rebelado vem cantar dentro de mim.