MORRO DE MEDO
Uma poetiza me disse
"morro de medo do escuro"
Tateando nesse silêncio
Eu morro de medo do claro...
No escuro eu pratico a omissão
Mas faço com ele parceria
Brinco comigo mesmo
Pique-pega na escuridão
Brinco mesmo de proteção
Me escondo
Me guardo
O esconderijo me acolhe...
Eu me lembro da infância
Eu no meu canto apagado,
Até chorava
Disso eu gosto de lembrar...
O escuro é o nosso cumplice
Ele é quem nos acoberta
Sem ele, no claro
Descoberta...
É o claro, o causador do frio
Eu sei, culpam o escuro em vão
Já não basta ter nascido na solidão
O pobre do escuro, só quer o nosso bem...
O escuro tem um nome
E ele quer respeito
O escuro não nos cobra nada
É o claro quem mostra toda a imperfieção...
A velhice
A dor
A mágoa
A marca
A farça
A màscara...
O passado
O medo
O canto
O apagado
O lamento
O constatado
O claro
O escuro...
Na barriga
No maior do surgimento, no orgão da vida
É ele..., o escuro nos guarda
Feche os seus olhos e não tenha medo
Abrace o seu escuro...
Se ele é seu amigo?
Mas é claro...
É ESCURO QUE SIM.