O PROFETA
O último dos homens foi profeta.
E viu todos os outros se esvaírem.
Alma fluida, corpo na gaveta.
Todos seres, um a um, viu partirem.
E o séquito, em mímica careta,
No murmúrio abafado do silêncio,
Mal notava que aos poucos se esvaía,
Nem cortejo ou o tempo mais se via.
Até que um dia se fez o que era dito,
E com coerência o que era tido por futuro
Fez-se real, nem infeliz, nem aflito:
Bendisse à alma, e a última honraria:
Deitou-lhe o madeiro ao peito escuro,
Fechou-lhe o tampo, e fez-se a profecia.