APARTE

Euna Britto de Oliveira

Site de Poesia: www.euna.com.br

Preciso de verde, versos e verdade.

Preciso da esperança de, tendo nascido velha,

transformar-me numa criança.

Ah, mar da China,

ah, menina, quem me pega o boto cor-de-rosa

para com ele ter uma prosa?

Ele na água e eu no barranco,

ele de rosa e eu de branco...

Quem me leva, em barco seguro,

para ver a dança das baleias?

Não me iludo com sereias...

O tocador de flauta poderia melhorar o mundo agora,

neste exato momento,

tocando uma suave música que me fizesse dormir,

aquela mesma música que eu escutava quando ninguém tocava...

A cozinha grande, o fogão de lenha,

e a casa era a da minha avó.

Juro que eu escutava uma música, à noite, às vezes, antes de dormir.

Seriam sons reorganizados de algum carro de boi?...

Ou era Beethoven mesmo, para justificar seu retrato na parede?...

Era uma música quase clássica, longe e fina

para os meus ouvidos de menina...

Uma mordomia era tia Nice me beliscar de leve o corpo todo, aí, eu dormia...

Agora, eu mesma belisco o meu pensamento

e de vez em quando sai poesia...

Penso em tanta gente!

Gente é uma coisa engraçada:

Se não está perto, vira lembrança.

Aliás, tudo longe é só lembrança...

Até o sol vira lembrança, mas por pouco tempo.

Até a noite vira lembrança, mas por pouco tempo.

Minha mãe?

Escapuliu, virou lembrança, alçou vôo,

furou o mistério e nos deixou na grande e humana peregrinação,

contando os anos e a abstenção...

Tem jeito não!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 16/07/2006
Código do texto: T194991