VÔO NOTURNO

Euna Britto de Oliveira

Site de Poesia: www.euna.com.br

Cheguei há oito dias

e ainda não acabei de chegar!...

Sou assim,

demorada pra "cair a ficha..."

Deve se sentir poderoso,

com a memória refrescada de que é feito

à imagem e semelhança de Deus,

o piloto que faz roncar os motores do resolvido avião

e o faz levantar-se,

arremeter-se,

arrematar dificuldades,

ganhar os céus ,

sobrevoar cidades,

atravessar o oceano

e chegar a seu destino!

Lanches,

atenções,

recomendações

e olhares de comissários

e comissárias de bordo,

palavras

em línguas de múltipla escolha,

televisõezinhas que mostram filmes

e os alternam com informações

sobre a localização do avião e sua rota,

num vôo virtual,

simulado sobre um mapa...

Lá embaixo,

colchão de nuvens,

ou nada que impeça a visibilidade

de montanhas,

planícies,

cidades,

rios,

paisagens...

E as pessoas,

que não se vêem,

mas se adivinham...

Porque existem e estão lá!

Cá em cima, a minha inveja

dos carros que avisto

da janela do avião,

quando ele se prepara para descer

e mostra, claramente,

com solavancos,

descendo os degraus do ar,

que aterrissar,

como decolar,

não é fácil!

Haja perícia e habilidade

por parte dos pilotos!...

Ô inveja dos carros cada vez mais próximos,

que escoam pelas ruas e estradas,

diante de meus olhos!...

Eles estão no chão, e eu,

ainda não!

Felizmente chegamos bem!

Desço do avião

e vou cuidar da minha vida...

O comandante, o co-piloto

e as aeromoças vão continuar,

dia após dia...

Vão se aposentar

ou envelhecerão voando,

porque são um pouco pássaros.

De vez em quando, por necessidade,

tomo carona na vocação deles.

Voar é um milagre!

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 16/07/2006
Código do texto: T194987